As Palavras Fugiram: Entrevista #03 - Evandro Ribeiro




Nasceu em Recife, passou sua infância entre Pernambuco, Paraiba e Alagoas. A adolescência passou em Santo André, cidade que considera como sua segunda terra natal, onde tem uma segunda família e muitos amigos. As pessoas que lá encontrou, trataram um garoto nordestino e desconhecido com o devido respeito que o ser humano merece, dando-lhe a confiança necessária para desbravar o futuro e o mundo. Hoje em dia é web designer e mora no Japão desde 1992. Não deixe o sol brilhar em mim é a sua primeira aventura literária.


O que o levou a tomar a decisão de escrever um livro?
Desde criança sempre li bastante, não me recordo de um dia sequer em que não estivesse lendo ou relendo algum livro. Ainda me lembro claramente como se fosse ontem, o dia em que descobri que podia ler uma frase inteira e entender o que estava lendo, eu tinha 6 anos e estava brincando de ler uma revista em quadrinhos do pato Donald. Naquela época por ser criança não dei muita importância ao fato de começar a estudar muito cedo. Meus pais, principalmente meu pai, homem nordestino do interior da Paraíba e com pouco estudo; dava importância tremenda aos estudos, fato que o levava a colocar todos seus filhos em fase pré-escolar em algum professor particular das redondezas para aprender a ler e a escrever. Hoje em dia me recordando desse tempo, acho que antigamente as pessoas se importavam mais com isso, pois não importava onde estávamos, sempre havia uma dessas escolinhas particulares para crianças em fase pré-escolar e sempre havia muitos alunos estudando. Enfim, comecei a ler e não parei mais, ler sempre foi uma coisa muito importante para mim, daí a escrever foi uma decisão quase que natural. Entretanto, nunca escrevi pesando em me tornar escritor ou coisa do tipo. A única vez que me recordo de ter tentado escrever uma história completa foi há alguns anos, e era também uma história sobre vampiros. A princípio não dei muita importância ao que escrevia, mas em um determinado momento, relendo algumas partes do que havia escrito, me espantei, porque achei que estava muito bom. Eu me baseio no seguinte fato, para saber se o que escrevi tem consistência ou não: Se ao reler algo que você mesmo escreveu, conseguir tirar alguma emoção daquilo que está lendo, então acho que você está no caminho certo. Uma pena, foi que naquela época eu ainda não usava computador, escrevia em um editor de textos que tinha um sistema precário de gravar os arquivos em um disquete do tipo floppy que sempre pedia para formatar os arquivos; numa dessas formatações acabei perdendo a melhor parte do que tinha escrito e então deixei tudo para lá.


O que mais o inspirou?
Se a pergunta for o que me inspirou a escrever “Não Deixe o Sol Brilhar em Mim” , a resposta está nas primeiras páginas do meu livro e na dedicatória que escrevi nele.
Foi o filme do diretor sueco Tomas Alfredson, baseado na obra homônima do escritor também sueco John Ajvide Lindqvist chamado “Lat Den Ratten Komma In”,
Traduzido em inglês como “Let The Right One In” e conhecido no Brasil como “Deixa Ela Entrar”. O filme me cativou completamente e decidi que deveria escrever minha própria história. Inclusive usei o mesmo tema do filme, e gostei muito da concepção do vampiro criado por Jonh Ajvide Lindqvist, totalmente diferenciada do que estava acostumado a ver; o meu vampiro tinha que ter essas características. O problema nisso, é que algumas pessoas lendo a sinopse, mesmo sem ler uma linha do que escrevi, tendem a dizer que estou copiando o filme . Um tema não é de propriedade de ninguém, se pedirem para dez escritores escreverem, por exemplo, sobre a vida do ex-presidente Lula; todos os dez vão escrever sobre a mesma coisa, pois o ex-presidente é único e tem uma vida única. Entretanto, cada um vai escrever sobre o mesmo assunto da sua maneira, dando ênfase a pontos distintos o que torna cada obra única. Eu usei apenas o mesmo tema, o encontro de um garoto que sofre bullying familiar e na escola, com uma garota que é um vampiro. Mas a história é minha, todos os textos e frases usados são de minha autoria , usei lembranças da minha infância para construir a história. Não existe uma linha, uma frase sequer idêntica ao filme. Existem lugares comuns do qual não se pode escapar quando se está falando de pessoas; quando pessoas se conhecem, se encontram pela primeira vez, é natural que se apresentem, falem um pouco de si. Isso acontece no meu livro, no filme, e em qualquer outra história que relate o encontro entre duas ou mais pessoas. Indico às pessoas que viram o filme e ficaram fans como eu, que leiam o livro e depois comentem.


Fale um pouquinho sobre o seu livro :)
Meu livro conta a história de Dennis, um garoto nordestino que vai morar em Santo André no ABC paulista na casa do tio, após a morte dos pais em um acidente. Lá chegando, ele é maltratado pela esposa do tio sem que este tome conhecimento, pois leva uma vida muito atribulada e vive ausente. A partir daí, Dennis começa a levar uma vida muito solitária. Evitando ficar em casa, vive perambulando pelas ruas; até que um dia conhece Valquíria, uma menina que o cativou completamente a primeira vista, apesar de ser um pouco estranha e completamente diferente das garotas que ele conhece.
Valquíria é uma menina de 13 anos muito solitária e que guarda um segredo terrível, ela é um vampiro que precisa matar regularmente pessoas para poder sobreviver. Ela se considera uma pessoa normal com uma doença especial e sofre muito por precisar matar pessoas; por causa disso, vive completamente reclusa e também perambula pelas ruas logo depois que a noite chega. Valquíria tem a proteção de seu irmão gêmeo Adam, que parece um pouco mais velho porque o tempo passou apenas para ele. [spoiler] Adam morre no início do livro[/spoiler], entretanto sua presença é constante em toda história que é narrada em sua grande parte no passado.
O ponto principal da história é o que acontece depois que os dois se encontram; dois pré-adolescentes solitários, que descobrem um no outro apoio, cumplicidade, carinho e amor e junto vão descobrindo os anseios dessa fase da vida de todos nós.


Dos personagens que você criou, qual seu favorito?
Valquíria é minha personagem predileta.


Como foi o processo de publicação do seu livro? E qual foi o maior obstáculo para essa publicação?
Publicar um livro seja no Brasil ou qualquer outro lugar não é uma tarefa fácil, dada a grande quantidade de novos autores que surgem a cada ano. Grandes e famosos escritores do passado, tiveram também no início suas obras recusadas, porque publicar um livro exige gastos elevados e uma editora é uma empresa, e empresas visam lucros, isso é simples assim. É natural que queiram investir no que é líquido e seguro, portanto, novos autores vão sempre ter dificuldade em publicar seu trabalho.
Esse é o maior obstáculo. No meu caso, nunca pensei seriamente que uma editora pudesse publicar meu livro, e por isso me preparei para fazer isso de forma independente. Vi algumas propostas de editoras que visam dar apoio a novos escritores, cada uma com sua característica, nessa nova modalidade a editora banca a publicação do livro e fica por parte do autor os gastos para dar a sua obra uma aparência mais profissional. Eu acho isso muito positivo, pois os gastos maiores são com a publicação, e o livro ter uma aparência profissional é um trunfo para o autor, ele cuidando disso vai ter certeza que seu trabalho vai ser visto com outros olhos, além do que toda essa preparação vai ser de propriedade do autor, o que não acontece quando a editora banca completamente o livro, nesse caso o autor se tem direito ao original que ele enviou para a editora. No meio dessas novas editoras, a editora Dracaena foi a que me ofereceu a melhor proposta.


Quais os seus autores favoritos?
Eu sempre li de tudo, dos autores nacionais, gosto de Machado de Assis, Monteiro Lobato, José Lins do Rego, Jorge Amado e muitos outros, esses aqui citados se deve ao fato de ter lido praticamente todo os seus livros. Dos estrangeiros, li praticamente todos os livros de Agatha Christie, e o autor de histórias fantásticas que mais li foi Stephen King. Tenho também predileção pelos contos de Edgar Alan Poe, Howard Phillips Lovecraft; Bram Stoker não pode ser deixado de lado por sua obra Drácula, e Joseph Sheridan Lefanu por seu livro de contos Carmilla e outras histórias, que talvez poucas pessoas saibam, foi quem influenciou Bram Stoker a escrever Drácula.


O que acha dos blogs e sites literários?
Acho sensacional a quantidade de blogs literários que existem hoje em dia na blogosfera. Foi uma grande surpresa para mim, sempre tive a idéia, que é insistente mente propagada aos quatro cantos, que o Brasil é um país de poucos leitores. Pode ser que seja verdade sim, entretanto, com certeza alguma coisa está mudando, a prova disso é essa grande quantidade de blogs literários espalhados Brasil à fora.

O que é fundamental para escrever um livro? Dê um conselho aos futuros autores ;)
Vou falar apenas com a pouca experiência que tenho de ter escrito “Não Deixe o Sol Brilhar em Mim”, com certeza cada escritor tem o seu método e o importante é a pessoa descobrir qual é o melhor para ela, qual maneira se encaixa com perfeição em suas características pessoais, que mais lhe agrada , que mais vai lhe trazer bons resultados. Meu método era usar o pouco tempo que dispunha para escrever, escrevia nas horas vagas. Levava o note book para o serviço e na hora do almoço sobravam sempre uns 15 minutos para escrever. Parece piada, mas esses 15 minutos foram essenciais, pois durante esse pouco tempo, geralmente definia o que ia escrever no dia e a noite quando chegava em casa concluía a idéia. Nunca consegui escrever usando papel e caneta, pois acabo me dispersando e depois não entendo os garranchos que escrevi apressadamente. Partindo para a história em si, primeiro é preciso ter alguma coisa sobre o que escrever, tendo decidido essa parte, é preciso construir as personagens, principais e algumas coadjuvantes. É também preciso antecipadamente decidir qual o cenário e época em que a história se passa.
Essas partes, eu considero fundamental pois é o limiar entre você ter uma história e não ter nada. Outro ponto fundamental é em relação a tempo e espaço, se você for escrever sobre um local e época que desconhece, vai ter que fazer muita pesquisa para que sua história fique verossímil. Pedir para que as pessoas opinem sobre o que escreveu é também outro ponto importante, porém deve-se tomar cuidado em relação a isso, as pessoas geralmente tem receios de falar o que acharam para não magoar os amigos, e é comum elogiarem o que na verdade acharam ruim. Um leitor com o compromisso apenas de uma boa leitura pode ser um ótimo aliado. Outro ponto, é que nem todas as pessoas tem as mesmas preferências e mesmo um leitor aliado pode influenciar negativamente no que você vai escrever. Então o importante é ter todas as opiniões possíveis e depois tirar a sua própria conclusão. Não tenho nenhuma formação literária e também não sou exímio conhecedor da língua portuguesa, e assim creio que também muitas pessoas estão nessa categoria. O importante e ir revisando sempre a parte gramatical até um nível que precise da ajuda de um profissional, o que vais e dar próximo da publicação do livro. Não ter dó de apagar e reescrever partes da história é também fundamental, demorei mais para revisar, apagar e reescrever do que para escrever história em si. Se a pessoa já tem sonhos de um dia ser escritor, é importante se dedicar o mais cedo possível e investir nesse sonho, fazendo cursos específicos; como gramática, literatura, etc.. Eu comecei tarde e agora tenho que correr atrás do prejuízo. Leia e pesquise como os autores que escrevem o estilo de sua preferência, desenvolvem sua história.Inicialmente copiar a maneira como esses escritores escrevem não é ruim e aos pouco você vai desenvolvendo seu próprio estilo. É como tocar um instrumento musical, por exemplo um violão; mesmo a princípio copiando a maneira como um artista executa uma determinada peça, jamais vai se conseguir copiar exatamente igual, por que cada pessoa tem suas próprias características e mesmo quem está tentando imitar tem as suas e essas com o tempo prevalecerão, criando o estilo próprio daquela pessoa.


Muito obrigada Evan pelas suas respostas e pelo apoio dado ;D

Eu é que só tenho a agradecer a você e a todos os amigos dos blogs parceiros pelo apoio, muito obrigado.

4 Comentários:

Deivison - Eu Tenho Livros disse...

Adorei a entrevista.
Gostei bastante dos conselhos que deu para os iniciantes. É engraçado saber que ele escreveu um livro de acordo com aqueles 15 minutinhos vagos. rs ...

Parabéns pelo post, ficou ótimo. :)

Beijos,

Deivison Amorim
@eutenholivros
http://eutenholivros.blogspot.com/

Unknown disse...

Ah adorei a entrevista! ^^
O Evandro é ótimo, muito simpático e estou louca para ler o seu livro.
Gostei muito das instruções e dicas para escrever o seu próprio livro, sempre tive muita vontade e quando era criança costumava escrever histórias apenas para me divertir mas depois de adulta acabei deixando de lado apesar de gostar muito e valorizar bastante aqueles que o fazem. Afinal, o que seria de mim sem meus queridos escritores? Adoro livros e sem eles nada disso existiria!
Fiquei ainda mais curiosa a respeito dos personagens, já sabia qual havia sido a influência para o livro pois tinha lido na dedicatória logo nas primeiras páginas.
Também gosto muito de alguns contos do Edgar Alan Poe, adoro as histórias do Stephen King (inclusive estou lendo uma no momento) e o livro citado, Drácula de Bram Stoker, foi um dos melhores e mais bem escritos que já li, um verdadeiro exemplar da nossa literatura universal que influenciou tanto a posteridade.
Enfim, gostei muito da entrevista! ^^
Beijos!

Sofia disse...

Amei a entrevista, parabéns!
Algo muito interessante
! ..
Lendo de Tudo
Beijos e MAIS beijos

Vanessa Tourinho disse...

Adorei a entrevista, como todo mundo!
Me deu mais vontade ainda de ler "Não deixe o sol brilhar em mim".
Parabéns pela entrevista, Marta.

Bjs.
paraisoempapel.blogspot.com

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